sexta-feira, 29 de abril de 2011

Gol Contra (A Mão Visível)


Excelente post do Alexandre Schwartsman. Repliquei para o nosso blog, para quem não tem o hábito de acessar o "A Mão Visível".


Em seu excelente livro, “Sob a Lupa do Economista”, Carlos Eduardo Soares Gonçalves e Mauro Rodrigues relatam um estudo de Luis Garicano e Ignacio Palacios-Huerta avaliando a eficácia da regra que passou a premiar a vitória no futebol com 3 pontos ao invés de 2. A motivação por trás da mudança era bastante simples: ao elevar o retorno da vitória relativamente ao empate, a FIFA pretendia estimular o jogo ofensivo e, portanto, a média de gols por jogo (aqui tomada como medida de qualidade do esporte).

Garicano e Palacios-Huerta, no entanto, comparando jogos do campeonato espanhol (em que pontos ganhos determinam o campeão) a jogos da Copa do Rei (onde pontos são irrelevantes) não conseguiram achar diferenças significativas no número de gols por partida. A explicação para este comportamento reside, como de hábito, na estrutura de incentivos.

Embora haja estímulo adicional para buscar o gol quando o jogo está empatado, a partir do momento que um time abre o placar, os incentivos se alteram: agora o custo de sofrer o empate é a perda de 2 pontos, contra a perda anterior de apenas 1 ponto. Assim, times que saem na frente tenderiam a abandonar a estratégia ofensiva mais frequentemente sob a nova regra relativamente à antiga, hipótese que não é rejeitada pela evidência.

Ainda que isto pareça mera curiosidade, a lição não poderia ser mais clara. Os agentes, sejam times de futebol, empresas, ou trabalhadores, não ficam passivos face a alterações no ambiente institucional (as “regras do jogo”); pelo contrário, se adaptam a elas de maneiras muitas vezes imprevistas, não raro frustrando seus objetivos originais.

Tal lição se torna ainda mais importante à luz da discussão recente sobre os mecanismos de persistência da inflação que vem ganhando força nos últimos meses. Depois de passar um longo período relativamente ausente, este tema retornou ao debate no começo de 2011 numa intensidade não vista desde 1999 (superando, inclusive, o observado em 2008). Forma-se um consenso que a indexação, problema que se acreditava superado, voltou a fazer parte das preocupações da sociedade (e do BC) neste momento.

Invoca-se a “cultura da indexação” e outras explicações de cunho sociológico (ou psicológico) para esclarecer o fenômeno, mas a verdade é que, fosse esta a razão última para tal comportamento, ele não teria perdido importância no passado, nem ganhado relevância ultimamente. É mais provável que possa ser explicado, como no exemplo acima, pela reação dos agentes ao perceberem a mudança nas “regras do jogo”, no caso, no próprio comportamento do BC no que se refere a seu comprometimento com a meta de inflação.

De fato, a percepção que o BC tende a acomodar os desvios da inflação com relação à meta, estendendo o período de convergência, é equivalente à noção que a política monetária permitirá maior persistência da inflação. Não é absurdo, portanto, que, dada esta informação, os agentes econômicos se adaptem ao novo ambiente, trazendo de volta as práticas de indexação características de um passado nem tão remoto (e, diga-se, a regra para reajuste do salário mínimo também fornece um exemplo nada virtuoso no que se refere a este tema).

Em outras palavras, as dificuldades para a política monetária que advêm das práticas de indexação de preços e salários não caíram do céu, mas resultam precisamente da percepção de maior permissividade do BC relativamente à inflação.

Não fosse isto ironia suficiente, sabe-se também que, na presença de indexação, são maiores os custos para reduzir a inflação em termos de perda de produto. Ou seja, para não pagar hoje os custos do ajuste, elevam-se os custos à frente, e não será surpresa caso estes sejam invocados no futuro como motivo para estender adicionalmente o prazo de convergência.

Não há mudança de regra que justifique gol contra.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pílula da educação

Depois de muito tempo desde meu primeiro e último post nesse blog venho aqui levantar uma discussão que tive com dois colaboradores na volta de um almoço nos velhos e bons tempos de faculdade. A intenção é discutir quais os efeitos da universalização do ensino superior. Para isso, peço que analisem a situação abaixo sobre os efeitos do que chamei "Pílula da Educação":

Efeitos da pílula: Uma dose garante instantaneamente ao paciente submetido ao tratamento um ganho educacional referente a 15 anos de estudo.

Pressupostos:

- As pílulas têm custo zero para a sociedade e consideram-se nulos os efeitos colaterais;

- 15 anos de estudo é o nível máximo de educação formal que um indivíduo pode ter;

- Disponível uma pílula para cada indivíduo em idade ativa e com menos de 15 anos de educação formal.

- 2 populações:

i) Controle: População com indivíduos em idade ativa com níveis educacionais diversos.

ii) Tratamento: População com indivíduos em idade ativa com níveis educacionais diversos submetida ao tratamento da pílula da educação, em que todos os indivíduos com idade ativa passam a ter 15 anos de educação formal.

O ponto para discussão: Quais os efeitos sobre as características sociais, políticas e econômicas da população tratamento em relação à controle?

Não gostou do ponto para discussão, a mão na sua cara!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A "consolidação" dos bancos

Nada como um feriado, um tempo ocioso, e o nervosismo para começar a escrever um post. Recomeçar o blog de novo.

Nas últimas semanas comecei a prestar mais atenção em algumas notícias sobre regulação bancária. Principalmente depois da compra do Banco Schahin e do Morada pelo nosso minerim do marketing esportivo e dos aposentados, o BMG. A compra em si não me preocupou muito. Mas mesmo sem me preocupar, fico curioso para saber os "truques contábeis" que eles vão arrumar manter o PR acima do PRE (ver o site do BC). O Schahin têm o Índice de Basiléia abaixo do exigido (11%), o Morada está quase lá (com 11,02%) e o próprio BMG vai ter que alterar suas operações por conta da Circular 3.515 (ver Circular), que vai exigir mais capital para cobrir os consignados. Enfim, isso já não é problema meu, espero que o Ricardão esteja sabendo o que faz.

O que me preocupa mesmo é a "consolidação do sistema bancário" que vinha sendo falada out of the record e parece estar acontecendo. No final do ano passado escutei de um profissional da área de regulação do BC "Banco tem que ser Banco, tem que ser grande. Esse negócio de empresário e família criar banquinho tem que acabar!". Depois ouvi dizer (isso já não confirmo a veracidade) que no pós-Panamericano alguns funcionários da autarquia passaram a defender a ideia de deixar alguns bancos menores quebrarem. Primeiro porque com o Panamericano algumas pessoas questionaram o poder de supervisão do BC, então deixar quebrar seria um "Está vendo? Não passo a mão na cabeça de ninguém". Segundo porque esses bancos estavam dando mais trabalho para eles, e como sabemos, muitos funcionários públicos não gostam dessa palavra. A partir daí a consolidação parece estar criando forma. Por isso, talvez, quem sabe, as medidas atuais são torno justamente das atividades de bancos médios e pequenos.

Meu ponto não é a defesa das instituições menores, que cabe ao grupo de interesse delas, a ABBC. Não sou protecionista, deixe que o mercado selecione. Mas a falta de clareza quanto a atuação do BC é que me incomoda. Parece que a turma da Unicamp (ver o artigo) vêm ganhando espaço não só na Fazendo, no BNDES e no CADE, mas também no BC. A tese do caro Jair Bolsonaro, "só é respeitado quem tem o poder de intimidar", parece estar sendo seguida à risca.

Não gostou? A mão na sua cara!