quinta-feira, 21 de abril de 2011

A "consolidação" dos bancos

Nada como um feriado, um tempo ocioso, e o nervosismo para começar a escrever um post. Recomeçar o blog de novo.

Nas últimas semanas comecei a prestar mais atenção em algumas notícias sobre regulação bancária. Principalmente depois da compra do Banco Schahin e do Morada pelo nosso minerim do marketing esportivo e dos aposentados, o BMG. A compra em si não me preocupou muito. Mas mesmo sem me preocupar, fico curioso para saber os "truques contábeis" que eles vão arrumar manter o PR acima do PRE (ver o site do BC). O Schahin têm o Índice de Basiléia abaixo do exigido (11%), o Morada está quase lá (com 11,02%) e o próprio BMG vai ter que alterar suas operações por conta da Circular 3.515 (ver Circular), que vai exigir mais capital para cobrir os consignados. Enfim, isso já não é problema meu, espero que o Ricardão esteja sabendo o que faz.

O que me preocupa mesmo é a "consolidação do sistema bancário" que vinha sendo falada out of the record e parece estar acontecendo. No final do ano passado escutei de um profissional da área de regulação do BC "Banco tem que ser Banco, tem que ser grande. Esse negócio de empresário e família criar banquinho tem que acabar!". Depois ouvi dizer (isso já não confirmo a veracidade) que no pós-Panamericano alguns funcionários da autarquia passaram a defender a ideia de deixar alguns bancos menores quebrarem. Primeiro porque com o Panamericano algumas pessoas questionaram o poder de supervisão do BC, então deixar quebrar seria um "Está vendo? Não passo a mão na cabeça de ninguém". Segundo porque esses bancos estavam dando mais trabalho para eles, e como sabemos, muitos funcionários públicos não gostam dessa palavra. A partir daí a consolidação parece estar criando forma. Por isso, talvez, quem sabe, as medidas atuais são torno justamente das atividades de bancos médios e pequenos.

Meu ponto não é a defesa das instituições menores, que cabe ao grupo de interesse delas, a ABBC. Não sou protecionista, deixe que o mercado selecione. Mas a falta de clareza quanto a atuação do BC é que me incomoda. Parece que a turma da Unicamp (ver o artigo) vêm ganhando espaço não só na Fazendo, no BNDES e no CADE, mas também no BC. A tese do caro Jair Bolsonaro, "só é respeitado quem tem o poder de intimidar", parece estar sendo seguida à risca.

Não gostou? A mão na sua cara!

2 comentários:

Ronaldão disse...

"a falta de clareza quanto a atuação do BC é que me incomoda"

Antes de tentar comentar o que te incomoda vou expor as ideias que vêm à minha cabeça:

1) Altos níveis de rentabilidade das instituições financeiras;
2) A característica cíclica da economia capitalista;
3) Gestão da política monetária e a relação crédito e inflação no atual contexto;
4) Porte dos bancos versus capacidade de resiliência;
5) Experiências da crise recente.

O Bacen parece tentar antecipar um cenário de quebra dos bancos pequenos.

Ele, como autoridade monetária do país, não deveria se deixar levar por vaidades e sim garantir um pleno funcionamento do mercado (e quando digo pleno digo competitivo e sustentável).

Espera-se dele uma sinalização antecipada de suas intenções e políticas para prevenir o mercado de surpresas não esperadas. Conseqüentemente, espera-se também que os agentes envolvidos não se sintam incomodados quanto a falta de clareza de sua atuação.

Modes disse...

Tornar o mercado mais concentrado, será? Acredito muito que este já seja um mercado oligopolizado e que as medidas macroprudenciais se validam na medida em que efetivamente tornam o setor mais eficiente e menos suscetível à quebras, mesmo que concentre ainda mais o mercado (parte disso é argumento da turma da Unicamp, eu sei).

Lembro da minha época de Banco, dos estudos lá do meu setor ao Bacen, que mostram mkt-share do consignado. Das dominantes, eram poucas instituições com de 9 a 17% do mercado, somando mais de 65% do mercado. O que estas medidas podem ter feito é tirado os bancos com os menores mkt-share, aumentando levemente os maiores mkts-share, de maneira a deixar a principal estrutura de mercado bastante semelhante com o que era antes. O mercado continuará concentrado.

Outro ponto é que com o fim da "cessão gerando resultado imediato" (da qual sou 100% a favor), os bancos do ramo consignado diminuíram o volume de cessão, que era dinheiro captado a custos um pouco acima do mercado, mas que compensava por gerar resultado no ato (alta capacidade de manipular resultado). Isso fez com que os bancos buscassem outras formas de captação, muitas vezes mais baratas (eficiência).

Brademos a favor de um mercado mais eficiente e/ou robusto perante crises, mesmo que mais concentrado. Há ganhos de bem-estar. Concentração neste caso pode ser perigosa por gerar poder de mercado, o que, neste mercado 99% regulado, é mais difícil.