segunda-feira, 26 de abril de 2010

Desemprego não é tão ruim assim

Esse post é apenas uma visão alternativa ao post "Uma PEC para acabar com o PAC", do Gari. Ele cita a aprovação da PEC para redução da jornada de trabalho como algo ruim, concordo com ele nos pontos que ele defende, mas não vejo a PEC como prejudicial, dado o atual momento vivido pelo país.

Quando se fala em redução de salários, isto significa que os salários vão ser reduzidos nominalmente. Inicialmente haverá um aumento do salário real recebido pelo trabalhador (considerando as horas trabalhadas), mas em um prazo maior o salário real tende a cair e voltar ao seu nível de "equilíbrio". Os encargos trabalhistas são prejudiciais à medida que aumentam os custos de demissão e contratação, funcionando como um mecanismo de manutenção da ineficiência, mas conforme o salário real voltar ao seu nível de equilíbrio, os encargos também voltarão a ter o mesmo impacto de hoje.

Apesar de restrições, o mercado de trabalho ainda segue a lei da oferta e da procura. Considerando que o salário mínimo é fixo, isso quer dizer que o impacto da PEC sobre o custo marginal pra quem paga salário mínimo vai ser maior do que pra quem paga salário acima do mínimo. Pois após o aumento é impossível que o salário mínimo real volte ao ser o mesmo do nível de equilíbrio anterior, já que o salário mínimo sofre reajustes acima da inflação e por lei não se pode pagar menos do que isso.

Isto não é ruim, considerando que os trabalhadores que recebem salário mínimo são em tese os trabalhadores mais ineficientes. O Gari fala que isso vai causar desemprego, enquanto que o Modess lembra da inflação. Eles estão certos, as duas coisas são correlacionadas, mas o desemprego vai ocorrer principalmente entre os trabalhadores ineficientes, enquanto que o salário real dos trabalhadores mais eficientes vai se "ajustar" com o tempo. A questão é que o choque que a PEC da redução da jornada de trabalho causa na economia é pequeno e o produto marginal não tende a sofrer grande impacto no longo prazo.

A vantagem é que ela aumenta o desemprego entre os trabalhadores menos qualificados, cujo efeito sobre o produto é menor. Enquanto que, entre os trabalhadores com qualificação mais elevada, o mercado de trabalho seguirá no longo prazo a dinâmica entre oferta e demanda, já que os salários reais tendem a retroceder aos mesmos níveis de antes. Desde que o nível de investimentos se mantenha, a economia tenderá a seguir o seu ritmo de crescimento normal.

Por que o desemprego dos trabalhadores ineficientes é bom? Porque ou eles morrem de fome ou se qualificam. É claro que eles podem contribuir pra aumentar o nível de criminalidade, mas esta não é uma questão tão grave, considerando que, dentre os que ficarão desempregados, muitos optarão por se qualificar, restarão alguns trabalhadores marginais, mas esta já é uma questão de segurança pública, que se abordada de maneira correta pelos orgãos competentes minimiza enormemente este problema.

Claro que estou sendo simplista e a questão é muito complexa, sei também que quem propôs a emenda não estava pensando nisto, mas eu acho que querendo ou não a proposição dele é benéfica porque aumenta o custo da mão-de-obra sem qualificação, podendo gerar desemprego e forçar a necessidade de qualificação. É claro que a redução da jornada de trabalho deveria vir com uma flexibilização das leis trabalhistas, mas ambas devem ser realizadas gradualmente para que não haja grandes choques na economia. É claro também que deveria haver alternativas para os que não tem qualificação se qualificarem, mas cada caso é um caso.

10 comentários:

Gari disse...

Vovó,

O mercado já seleciona os mais eficientes, não precisa dar essa volta toda para chegar no mesmo lugar. E essa volta toda que você explicou vai gerar mais custos, e no curto prazo inflação. No longo prazo, desindustrialização. Então o argumento de seleção já é válido para o mercado como é hoje, não precisa de uma PEC para isso.

Abel disse...

Vovó,

FOCO!

Boi disse...

Concordo com o Gari, meu filho.

Discordo completamente. Primeiro: o mercado já faz essa seleção. Segundo: Nada garante que o cara desempregado vá se qualificar. Já que, supostamente, mais empregos seriam gerados, ele poderia pegar dois empregos de menor nível de renda. Assim, ele trabalharia muito mais para ganhar o mesmo tanto que antes ou um pouco melhor. Não tem benefício algum pro trabalhador.

Bela disse...

Galera, o salário do trabalhador é igual sua contribuição marginal para o Capital, ou seja, salário é igual a produtividade marginal do trabalhador. A produtividade marginal de um Doutor e de um Operário são diferentes, mas isso nada tem haver com eficiencia. Os dois são teoricamente eficientes. Sabemos que a taxa de lucro média de uma economia ou até mesmo uma empresa, é o melhor indicador de eficiencia. Uma empresa de engenharia que tem predominantemente Operários desqualificados, pode ser mais lucrativa/eficiente que um Hospital particular cheio de Doutores. Eficiencia e produtividade são coisas distintas.

Muitas vezes o mercado se expande abrindo vagas para operários e não para doutores... Quem tá desempregado não é ineficiente.. Isso não tem nada haver...

DEsemprego elevado (até certo ponto) é bom para a economia capitalista pq comprime os salários e eleva a taxa de lucro do sistema.. Taxa de lucro elevada = maior eficiencia, ou seja, seu capital se transforma em mais capital com um esforço menor. Menor pq o empresário não tem dificuldade para contratar e ainda paga menos. Assim a acumulação de Capital na economia é maior/mais eficiente (pq quem compra máquina são as firmas e não os trabalhadores).

Mais capital na economia capitalista representa mais riqueza..

Abraço

Gari disse...

Esse é o filho do candão!

Deu a mão na cara de todo mundo agora! Mas a mão na sua cara também! Quando te pedia umas explicações assim você nunca dava, fica enrolando

Anônimo disse...

Eu não quis dizer que a PEC é boa por ser um mecanismo de seleção. Isso seria um modo de seleção estúpido.

Eu não deveria nem ter falado em ineficiência, porque isso gera dúvidas e discussões inúteis.

O que eu quis dizer é que o efeito desta PEC sobre o mercado de trabalho e sobre a economia é tão insignificante que os efeitos dela podem até ser positivos.

Afinal, o salário real vai se ajustar com o tempo e apenas os trabalhadores ineficientes ficarão desempregados. Ou seja, os trabalhadores que recebem salário mínimo ficarão desempregados.

Mas convenhamos, o salário mínimo mal é capaz de fornecer a cesta básica necessária para uma pessoa se sustentar, quanto mais pra sustentar sua família.

Eu sei que no Brasil há muitos que sobrevivem apenas com o salário mínimo, mas isto é uma situação precária e que tem que ser mudada. O desemprego só agravaria a situação destas pessoas, exatamente aqueles cuja contribuição marginal é menor.

Anônimo disse...

Quando falo que a situação dos que recebem salário mínimo tem que ser mudada estou falando de aumento de qualificação e não de aumento do salário mínimo ou redução da jornada de trabalho, mas de políticas voltadas efetivamente para isto.

Bela disse...

é... Uirá vc tá sendo prolixo e contraditório..

Veja:

"Eu não deveria nem ter falado em ineficiência, porque isso gera dúvidas e discussões inúteis."

Em seguida vc diz:

"Afinal, o salário real vai se ajustar com o tempo e apenas os trabalhadores INEFICIENTES ficarão desempregados. Ou seja, os trabalhadores que recebem salário mínimo ficarão desempregados."

Cara, esquece isso! Tenta ler de novo o que eu falei acima.
Quem recebe salário mínimo não é menos eficiente para a economia. Nada haver! Olha a Espanha lá com 20% de desemprego.. Tá cheio de gente super qualificada desempregada. Desemprego é um problema que atinge todos os trabalhadores em uma economia. Ora um segmento de trabalhadores, ora outro segmento. As vezes todos também!


Se eu contratar um economista feio como o Romulo, mas super qualificado como o Romulo também, para trabalhar na minha empresa, vou pagar para ele R$ 10.000,00. Vou esperar que ele me retorne R$ 3.000,00 (por exemplo uma taxa media de retorno da economia em dado momento). Se eu contratar uma cozinheira(pouca qualificação) pro meu restaurante, vou pagar R$ 1.000,00 e esperar que ela me retorne R$ 300,00. O Romulo e a cozinheira são ambos eficientes! Isso em regime de concorrencia perfeita e mercado em equilíbrio.

Em um momento de recessão, talvez o economista romulo tenha uma produtividade marginal para K menor que a Cozinheira (Aí vc vê que o nível de qualificação não tem nada haver com EFICIENCIA), dado um novo rearranjo de preços e o desequilibrio de mercado. Como comida ninguém pode ficar sem (por isso a produtividade marginal da cozinheira fica maior, dado a maior contrapartida do mercado para a firma restaurante nesse momento). Assim, vou demitir o Romulo e ficar com a cozinheira. PÁRA de viajar que as pessoas que ficam desempregadas são as mais desqualificadas da economia!! Os desempregados são os mais ineficientes para o CAPITAL em um dado momento no tempo. MAs é a dinâmica do mercado que vai determinar quais tipos de trabalhadores ficarão desempregados, e isso nada tem haver com a qualificação dele. Na crise imobiliária, a classe de Ourives tava em ALTA, enquanto que os Executivos super qualificados estavam perdendo emprego.

No meu primeiro comentário eu disse:

" Muitas vezes o mercado se expande abrindo vagas para operários e não para doutores... Quem tá desempregado não é ineficiente.. Isso não tem nada haver"

Cometi um erro. Quem tá desempregado não é ineficiente no sentido do Uirá, que está confundindo nivel de qualificação com eficiência. Logo, quis dizer que em uma situação de desempregos, não existe uma lei natural que determine que sejam os menos qualificado. Quem ta desempregado é ineficiente para o mercado em dado momento de desequílibrio deste. Quando o mercado está a pleno emprego, todos tem a mesma eficiencia para o Capital, seja com um ano de estudo, ou 50 anos de estudo...

Hoje eu to animado!!!

Abraço!

Gari disse...

Que isso Bela, esse comentário seu vale um post!

Só faz uma introdução pro pessoal e posta lá. Muito bem explicado. É o candãozinho!

Só vou discordar em um ponto. Você comparou a produtividade entre duas ocupações diferentes, ai concordo que eficiência e qualificação não tem nada a ver. Mas se pegarmos 2 cozinheiras, a mais qualificada te traria um retorno maior, conseguiria fazer mais pratos/hora, assim você (o mercado) selecionaria ela e não a outra para trabalhar para você.

Mas continuo discordando do ponto da vovó, desemprego não vai gerar qualificação.

Modes disse...

Vovó, sua neoclássica!! Se tudo tende a sua taxa natural no longo prazo, pra que governo? Pra que intervenções econômicas?

Como dizia um sábio homem (Gil Brother): vamos viver a deus dará!