quarta-feira, 28 de abril de 2010

Grécia, Portugal e o risco de dominância fiscal

Agora há pouco, lendo sobre a lama que se encontram algumas economias européias, com destaque para Grécia e Portugal, lembrei de um tema muito legal que estudei na minha monografia: a dominância fiscal. Sem entrar no mérito da volatilidade cambial e da inflação gerada por essa situação, a dominância fiscal ocorre quando a política monetária, além de perder sua utilidade, torna-se uma armadilha aos formuladores de política econômica. As condições para tal são: primeiro, uma relação dívida/PIB muito alta ("muito alta" varia para cada economia. Uma economia como a Bolívia, governada por índios, para mim 5% já é excessivamente alta. Não coloco minha grana lá por nada nesse mundo), segundo, que parte siginificativa dessa dívida esteja atrelada à moeda estrangeira e terceiro, que a percepção de risco internacional seja desfavorável.

A Grécia atende aos três requisitos básicos de uma dominância fiscal. O que ocorreria então se o governo utilizasse a política monetária na tentativa de estabilizar a situação, aumentando ainda mais as taxas de juros na para atrair recursos externos para financiamento de sua dívida? O resultado seria o oposto ao descrito na macroeconomia, um tiro no pé: o aumento dos juros criaria ainda mais dúvidas acerca da capacidade do governo em honrar seus compromissos, e assim o investidor, que não é bobo nem nada, seria tentado ainda mais a deixar o país e levar consigo sua grana.

Resta, então, para a Grécia apenas as duas possibilidades: um ajuste fiscal violento ou um empréstimo da Alemanha, no momento a única economia européia capaz de tal ação. Na verdade, as duas possibilidades precisam andar juntas para que se tornem realidade. Como recentemente a S&P rebaixou o rating da dívida grega para "junk", é bem provável que um corte nos gastos agora, ou apenas a sinalização de que irá ocorrer, não baste para convencer o mundo a financiar a dívida do país. Por outro lado, a Alemanha tem sido bastante firme na sua posição, deixando claro que não está disposta a colocar um mundo de recursos na Grécia se não houver uma contrapartida real do governo. Como disse a Angela Merkel "You have to economise, you have to become fair, you have to be honest; if not, nobody can help you". Ela é ou não é "o cara"? No lugar dela, o presidente do Uirá e do João teria certamente dito alguma besteira e depois dado a grana sem muitos critérios, alegando que eles são "mais pobres", como fez com Paraguai, Bolívia e continua fazendo mundo afora. Mané.

Boa sorte para a Grécia. Temos que torcer para que os sindicatos e estudantes de lá não tenham sucesso nos protestos que estão fazendo contra o ajuste fiscal (ainda fraco) iniciado. Caso contrário, tirem o dinheiro da Vovó (Vovó Investments S.A., empresa que aplica a grana de todos os integrantes do Blog) e mandem pra renda fixa porque o pau vai quebrar!

Você é um comunista de buteco e acha que o Lula que é o cara e que quem quebrou a Grécia foram os "banqueiros"? A mão na sua cara! E não enche meu saco.

16 comentários:

Gari disse...

Esse é meu filho, muito bom filhão! Não sabia dessas coisas, só que o futuro é incerto!

Não conheço muito o ambiente institucional na Grécia, mas acho que lá nem tem muitos butecos, então esse tipo de gente não deve rondar muito por lá. Até porque o povo pros lados de lá é bem "xiita" não tem paciência com esse tipo de gente como nós temos. Se encontram um "passam a lambida no pescoço dele"

Gari disse...

ah, "pros lados de lá" entenda-se: Sérvia, Albânia, Sul da Itália, Turquia...

Cláudia Hamacek disse...

Prezado boi,

Parabéns pela qualidade do post, é muito bom poder relacionar o que estudamos (principalmente na monografia) com casos reais (para aqueles mais teóricos) e atuais.
De fato a situação de alguns países europeus, em especial Grécia e Portugal conforme descrito no post, está muito complicada. São necessárias decisões firmes por parte dos governos, mas que não são muito "populares". A vantagem é que, apesar dos impactos negativos para a população (corte de gastos em políticas sociais, menos investimentos, menor geração de empregos devido queda de demanda pública e outros, mimimi...), acho que posso dizer que os europeus são mais civilizados e esclarecidos e consiguirão enxergar que na situação atual não a muito mais o que se possa fazer. Temo que a proximidade com os trópicos faça com que em especial portugueses e gregos sejam mais parecidos com os trabalhadores da parte de baixo da linha do equador, but let's hope for the best!
Me ocorreu agora, eu não sei muito sobre a posição da União Européia sobre o assunto, mas me atrevo a sugerir que, dadas as formas de interverção em setores chave, como agricultura e ferro, essa seria uma boa hora de meter o bedelho e apontar o caminho. Enfim, sugestão de leiga.

Não gostou do comentário, a mão na sua cara! (sempre quis falar isso!)

Modes disse...

O bovino virou economista, que orgulho!

Com certeza a eficácia da política monetária está comprometida na Grécia. Para a solvência do páis o ajuste fiscal é premente, contudo o modus operandi do ajuste é complexo, uma vez que certas áreas (como educação) não podem ficar sem um investimento mínimo público.

Boi, agora falta só o bigode e o gumex no cabelo pra vc ficar que nem o Keynes. kk

Boi disse...

Filho,

Não sei não viu. Esses países como Itália, Grécia e outros, só não são Áfricanos por que o Mar Mediterrâneo não deixa hehehe. Lá deve ter muito comunista de buteco sim, pelo menos eu acho.

Boi disse...

Cláudia,

Realmente a situação é tensa. A taxa de juros para títulos de vencimento em 24 meses está acima dos 11%, maior índice da história da UE (BBC.co.uk). Pelo que fiquei sabendo, estão quebrando o pau por lá por causa desse ajuste, que deve ser feito por meio de aumento de impostos e cortes nos benefícios e na previdência.

Tem mais coisas, mas o que eu vi até agora foi isso. Tb não estou tão por dentro dos detalhes. Mas não acho que eles estão de boa com a situação, tipo entendendo que isso tem que ser feito. Por mais "desenvolvido" que seja o povo, essa é sempre uma situação complicada. Lembro da aula do William quando ele mostrava que políticas de custo concentrado e benefício difuso, como é o ajuste fiscal, são sempre um suicídio político, pq são muito impopulares.

Bela disse...

Q tristeza.... Se a Grécia não tivesse adotado o Euro, eles poderiam fazer uma desvalorização cambial gerando aumento das exportações e melhorando o balanço de pagamentos e consequentemente suas reservas internacionais. Isso aumentaria a confiança dos investidores e poderia gerar aumento de emprego na industria Grega, que por sua vez aumentaria a arrecadação fiscal... Mas a tristeza está no fato de que a consequencia da desvalorização da moeda Grega para nós brasileiros, seria podermos visitar as Ilhas e os bons restaurantes Gregos à preços bacanas... Quando falo em ilhas gregas, penso nas gregas de Biquinis. Quando falo em restaurantes gregos, penso nas gregas de biquinho comendo exóticos frutos do Mar...


Tá ficando muito economia esse Blog!... Cade a tecnologia!

Claudinha voltou!

Abraço!


ps: Boi, eu não acho q colocar dinheiro na Grecia é má idéia. Vc pode até ganhar um presente deles..

Boi disse...

Bela,

Uma desvalorização cambial ao estilo Chinês teria, na verdade, um impacto negativo. Primeiro porque uma ação nesse sentido causaria inflação, efeito da transmissão cambial sobre os preços de bens transacionáveis (blog do Schwartsman). Segundo, porque uma depreciação cambial em uma economia com alta parcela da dívida atrelada, direta ou indiretamente, à moeda estrangeria, só faria aumentar a relação dívida/PIB, e pioraria ainda mais a situação.

Eu imagino que a solução lá é trivial: responsabilidade fiscal.

Esse blog tá muito pouco economia, Bela! Mas tá faltando tecnologia tb. Cadê o menino Modes?

Lu disse...

Boi,

você voltou insipirado lá da Europa, hein?!
Praticamente uma aula, meus parabéns!

Bela disse...

Boi, tudo é um trade off em economia...
Sua preferencia pelo ajuste fiscal se justifica, mas...
Ajustes fiscais não necessariamente levará a economia da Grecia para uma situação melhor no longo prazo (apesar de que acho q é a única saída sensata para eles).. Poderá não acontecer os bons efeitos "non-keynesians".. Assim a Grecia pode entrar em um processo de estaginflação que é BEM pior ainda..

Uma desvalorização cambial aumenta a relação divida PIB no curto prazo... Dependendo dos efeitos dessa desvalorização sobre as exportações e o ambiente economico da Grecia, isso poderia fortalecer a moeda grega no longo prazo e as coisas voltarem ao normal.. Sei lá...
Economia de buteco... posso tá falando muuuuuita besteira... Eu não sei nada de economia e nem sei como que é a economia Grega..

Só sei q nunca é bom para um país não ter controle sobre seu câmbio. Mas fazer parte da UE, compensa.

Abraço

Anônimo disse...

A Grécia não precisa fazer desvalorização cambial, basta eles aumentarem as taxas de juros lá no céu, venderem o máximo de títulos que puderem, embolsarem a grana e depois declararem moratória.

Nem o Osama pensaria em um ataque terrorista tão bem sucedido, e eles ainda podem pedir um resgate gigante à União Européia, com a ameaça de que vão exterminar o Euro.

Quem vai se unir a mim na luta a favor do fim do capitalismo, este sistema obsoleto e ultrapassado, extremamente ineficiente. Quando será que os seres humanos vão evoluir?

Gari disse...

Com a vovó pensando assim melhor colocar nossos milhões na renda fixa agora!

Boi disse...

Bela,

Eu acho que na atual situação, com a Grécia arriscando perder controle sobre a dívida, o ajuste seria a única solução. Imagino que o ajuste seria tipo o que a Irlanda passou nos anos 80: corte de gastos correntes e, depois de um tempo, aumentos nos investimentos. Algo como "arrumar a casa". Ao fazer isso, haveria uma sinalização ao mundo que eles tem controle sobre a dívida e assim a percepção de risco seria reduzida. Com o tempo, tudo voltaria ao normal, até chegar um governo populista e aumentar os gastos públicos, armando uma nova bomba.

E não acho que depreciação cambial seja uma solução. Primeiro porque o BC europeu tem como foco principal perseguir uma meta para inflação na zona do Euro, e não uma meta para câmbio. Segundo que está mais que provado por experiências anteriores (do Brasil inclusive) que câmbio como âncora nominal é na verdade um tiro no pé. A depreciação forçada do câmbio elevaria os níveis de preços no curto prazo, causando apreciação da taxa de câmbio real no longo prazo. Essa é a taxa que realmente importa para o comércio internacional, pois mede o poder de compra de uma determinada economia. Ou seja, depreciar a moeda, além de ser um retrocesso institucional, é também um retrocesso econômico.

É isso que eu acho, Bela.

Abração

Boi disse...

Poisé, filho. Vovó tá me assustando!

Abel disse...

Política cambial é medida inconcebível dado contexto.

Bela disse...

Tá certo Boizão, vc tem toda razão!

Entrei nesse assunto pq seria legal visitar a Grecia e as Gregas pagando tudo bem barato... Igual o William falava da viagem dele na Argentina, qd ele ficava andando de Táxi à toa só pq era barato..

MAs...

Eu não sei pq política cambial é retrocesso institucional e econômico. O BC Brasileiro ano passado segurou várias vezes a valorização do nosso Câmbio...


Abraço

Ps: Boizão, me ensina a falar bonito e pertinente igual vc.. Deu orgulho aqui.