quinta-feira, 15 de abril de 2010

Manifestações

Como disse no post anterior, trabalho no centro da cidade, para o bem e para o mal. Uma coisa que me impressiona aqui é a biodiversidade. Temos engravatados, mendigos, estudantes, trabalhadores, flanelinhas, “dentistas!”,..., e o que nunca falta, manifestantes em greve! Mas para entrar mais no assunto vou contar uma breve historinha.

Certa vez fui a um encontro de empreendedores, organizado por um sujeito, até simpático, chamado Guilherme Meilman. Neste encontro conheci um programador de computadores que criou uma empresa que faz quase todos os softwares de videokes que nós conhecemos (se você já cantou em um e sua nota foi ruim, pode culpá-lo). Um sujeito que com uma empresa de 3 pessoas fatura bastante, certamente um cara de sucesso! Mas o que aprendi com ele foi um método de trabalho muito interessante. Segundo ele quando se trabalha numa empresa de programação, não se pergunta ao colega do lado, quando der na telha, a solução do seu problema. O que se deve fazer é: levante a mão e então espere ser atendido por algum colega. Motivo: você não pode achar que seus problemas são maiores/mais urgentes do que os dos outros a ponto de querer atrapalhar a rotina alheia. Gostei muito do conceito.

Agora voltando aos manifestantes do centro, vamos aplicar o conceito dos programadores. Com que direito (eu sei que está na constituição, eu digo a idéia de moralidade e ética) os manifestantes param o centro de uma cidade inteiro, ficam gritando palavras de ordem, fazendo barulho, sujando as ruas e atrapalhando os outros? Assim como no caso dos programadores, estão julgando que seus problemas são maiores do que os dos outros. Há pessoas que talvez estejam atrasadas para um exame médico, entrevista de emprego, voltar pra casa e descansar depois de um dia de trabalho, etc... E muitas vezes não há uma proposta viável ou sensata para negociação, o motivo é a birra, fazer barulho até serem atendidos. São como crianças, que não tem discernimento para julgar o que é sensato e o que não é. Falta eles pensarem que os problemas deles não são maiores do que os de ninguém.

Gosta de manifestação? Já participou de uma? A mão na sua cara!

8 comentários:

Unknown disse...

Valeu pela lembrança!

Mas indo direto ao assunto do post, isso me remete ao tema de 'incentivos'.

Trabalhando em uma startup que mexe com programação, equipe pequena, rendimento acima da média, você pensa 10 vezes antes de incomodar alguém porque, se o fizer, pode atrapalhar o cara, e vai atrapalhar todo o processo! Você tem incentivos a pensar antes de incomodar.

Já na manifestação, nego não tá nem aí se te atrapalha, porque o seu trabalho não interessa ao manifestante, em absolutamente nada (é por isso que ele escolheu parar o centro, e não o Centro Administrativo do Aécio). Naturalmente que poderíamos pensar que o manifestante deveria pensar na coletividade antes de parar o trânsito. Nessa linha, ele teria incentivos a manifestar seus ódios de outra forma. Mas isso só deve acontecer na Suécia. Na verdade, o cara tem incentivos pra lutar pelas suas causas individualistas, sem pensar em mais nada.

Minha opinião: esses manifestantes são bem babacas. Mas fazer manifestações é essencial. Bato palmas para quem manifesta sem atrapalhar os outros, e há várias formas de fazer isso, ainda mais com rede social. Uma twittada bem feita causa um efeito muito mais positivo do que parar o trânsito...

Gari disse...

Guil,

Concordo com "Bato palmas para quem manifesta sem atrapalhar os outros..." e também que há maneiras mais eficientes. Ai está meu argumento, se há maneiras de fazer de forma eficiente, porque fazer da menos e que atrapalhe os outros? Baderna pura.

Discordo do "o cara tem incentivos pra lutar pelas suas causas individualistas, sem pensar em mais nada", assim você está tratando os caras como animais que só reagem a incentivos e não pensam (tudo bem que alguns deles poderiam ser tratados assim), mas ai vem a parte que cabe pensar,muitas vezes difícil, e tentar ser um pouco ético. Com esse argumento seu poderíamos justificar desvio de verba pública, pensei em mim sem pensar nos outros.... Não entendi errado, sei que você não concorda, só não acho que seja justificativa.

E tem mais, se não gostou, a mão na sua cara!

Abel disse...

Se for olhar pelo lado do incentivo, podemos também supor que, ao fazer uma manifestação que atrapalham outras pessoas, menos apoio os manifestantes terão, pois se estou em um onibus lotado, parado no transito por causa de uma manifestão dos funcionarios do correio, eu vou ser o primeiro a xingar todo mundo do correio, e falar que a reclamação não é pertinente.

Ronaldão disse...

Tb discordo de manifestações baderneiras e com o propósito de só fazer barulho. Se negocia com argumento e nao com baderna.

Vcs viram o caso das manifestações no Centro Administrativo em que o grupo manifestante pagava pessoas alheias para protestar e carregar bandeiras como se estivessem reivindicando algo como os demais? .... mostra o despreparo do grupo. Mão na cara deles.

Manifestações tem que ser educativas e concientizar os extra classe sobre o que e por que reivindicam, para assim, aderirem mais pessoas para apoiar a causa.

Mas convenhamos, professores não são nada valorizados no Brasil, e quando se discute melhora da qualidade da educação uma das ações que é consenso é uma melhor remuneração aos professores (que incentive melhor qualificação e melhor desempenho).

Então, que façam uma manifestação ética e com consciência!

Mas vai falar isso pro caboco que tem 20 anos de casa e está 20 anos puto com seu salário de R$700... Com certeza ele já deixou de se importar com isso e apela pra tudo por um aumento salarial.

Acho q ele te responde levando a mão na SUA cara!

Bela disse...

O incentivo de quem manifesta, especialmente em greves, é conseguir aumentar seu salário, Doa a quem doer (lembram dos motoristas de onibus?)... Essa coisa q somos movidos por incentivos faz total sentido, ao mesmo tempo é complexo pq os incentivos podem sobrepor-se..Até q ponto vale a pena ser escroto pra aumentar seu salário? Aposto q muitos não animaram entrar na manifestção... Complicado..

Mas assim como o consumidor padrão tem preferencias monotonicas, etc etc etc (nao lembro de porra nenhuma mais)..Acho q o individuo padrão tem incentivos prioritamente pecuniários vis a vis outros incentivos(moral, ética, etc...) para agir... Complicado... Eu nem sei de mim mesmo...

Gari disse...

Acho que vocês não entenderam meu ponto. Não disse que não há incentivos para eles pararem o trânsito, sim, eles buscam o interesse próprio.

Mas o que eu quis dizer foi que os interesses deles não devem se sobrepor aos interesses do resto da população. É querer achar que seus problemas são maiores do que os dos outros. É essa a crítica.Porque se não estão fazendo a mesma coisa de quem desvia dinheiro público.

Bela disse...

Gari, com certeza eu tinha te entendido.. To dialogando com a galera dos comentários q tá falando de economia do incentivo (pelo menos é o que eu entendi).. Só fiz umas reflexões retóricas.. hehehe..

Mas de toda forma dá pra fazer um gancho entre nossas visões.. Vamo lá!
Se o incentivo prioritário das pessoas é de cunho pecuniário, cabe o poder público coibir certas exageros em prol da coletividade.. Ou seja, uma mãozinha feroz na cara dos "manés"... os "mané"festantes...

Abraço!

Modes disse...

Exato, Bela. Na complexidade da realidade, as vezes analisar o "saldo líquido" de todos os incentivos não é fácil. Com certeza a viseira deve ser aberta para ver os demais incentivos. Um exemplo claro de incentivo contrário para este tipo de manifestante é o citado pelo Dentão...

E se o bem-estar do resto da população afeta as escolhas pessoais (o que particularmente acho muito razoável assumir), talvez o indivíduo pensaria duas vezes antes de desviar verbas públicas, parar o trânsito da região central da cidade em horário de pico, deixar de ler o blog amaonasuacara...kkk. Pena que o grau de interferência do bem-estar social nas escolhas pessoais é muito baixo para alguns (o cara fode os outros em benefício próprio sem hesitar).

Também acredito em formas mais inteligentes e eficazes de manifestação, Guil! A Revolução Industrial, por exemplo, já se foi há quase dois séculos... muita coisa mudou de lá pra cá. Então pra que continuar protestando nos mesmos moldes daquela época??

Você é manifestante com viseira, que não pensa na coletividade e que protesta como se estivesse no século 19?? Mão feroz na sua cara!